08/03/2012

O que me acontece! Hoje foi no Tribunal

Queridos Amigos,
O que me acontece, de vez em quando, não tem explicação e entro no mundo do surreal.
Hoje aconteceu-me isso. Não tem explicação.
Foi em pleno Tribunal.

Era suposto falar da Mulher num blog de modas por ser hoje "dia da Mulher"? Desta vez não porque o "dia da Mulher" não me diz nada. O que me parece mais interessante é falar de mulheres e não da "Mulher".
Vou contar uma coisa insólita que me aconteceu hoje. Não sei como é que eu às vezes tenho uma lata que nem sei como é possível dizer o que digo, mas quando dou conta já saiu, voou e não a apanho. Acho que até é perigoso e às vezes chego a pontos que até me desconheço. Não vou aprofundar este tema porque depois saio daqui a pensar que sou esquizofrênica ou que tenho alguma doença assim desse estilo. Fico mais tranquila se pensar que de "louco e médico todos temos um pouco" e lá me vou safando na minha autoconsciência. Não sei se vos acontece isto, mas a mim sim. Às vezes passo-me, entro em órbita e até digo mal da minha vidinha quando me vejo em certas em que me meto. Antigamente era com polícias. É com cada cena com polícias! Agora desde que me ajudaram quando me roubaram a carteira é que eu percebi o que eles aturam e que não andam só à caça à multa de mulheres estilosas com carro mal parado à porta das melhores lojas de roupas, sapatarias, ... da cidade.
Mas hoje foi no Tribunal. Não vou contar contextos - técnicos e infinitamente maçadores - mas o que estava em causa era passar para a ata da audiência um requerimento que eu tinha feito e que continha a melhor literatura juírídica  do país e que me tinha dado um trabalho do catano e o assunto era um tema de trampinha que a outra parte tinha trazido para ali só para empatar o processo. Pois é: ata e não acta (quando vi aquilo parecia-me algo como "cata" e, se já estava a entrar em órbita, para lá me catapultei. A outra parte não queria que eu entregasse a peça nem que o Tribunal a admitisse, o que me estava a levar a ditar o texto todo porque aquilo tinha que ficar no processo..
Diálogo (inacreditável, mas foi assim, tal e qual): eu para o juíz- Senhor Dr., temos duas hipóteses: ou eu entrego o texto que li e depois a Secretária  passa para a ata ou eu dito. São só 13 páginas a letra pequenina, de tamanho palatyno 11. Estamos na Quaresma e eu preciso de fazer penitência. Aliás, precisamos todos de  fazer penitência. Juíz: - Senhora Dra., eu preciso de fazer penitência mas não é desta. Eu: - Senhor Dr., pois acredito, mas isto vai ser bom porque nos vai fazer exercitar a paciência. E a propósito disto até aproveito para lhe dizer uma coisa de que se vai lembrar, que eu aprendi e que lhe vou ensinar, já que o Senhor Dr. é mais novo do que eu, embora não pareça: é que a paciência leva-nos longe.O juiz: - a mim não é a paciência que me leva longe. Eu:- então o que é? O juiz- o que  a mim me levou onde estou hoje na minha vida é a humildade. Eu: - Pois é Sr. Dr., é de virtudes que estamos a falar. Juiz: - Senhora Dra., sabe uma coisa? Eu aprendo sempre com os outros e já hoje aprendi aqui nesta audiência (aquilo estava a correr para o mal e o ambiente pesado, para não dizer outra coisa...)
Bem, isto parece surreal. Mas foi assim mesmo. Tal e qual. Embora a conversa tenha depois passado por outras coisas como a palavra "encardido". Para o final da história o que conta  é que correu tudo bem, o ambiente desanuviou e bem vi a cara das senhoras representantes da Autoridade Tributária (AT) de boca aberta com aquilo. E o certo é que este juiz me ensinou muito quando me disse que o que o  fez chegar mais longe na vida foi a humildade. Vou ganhar este processo porque não há outra hipótese, e nesta vida perde-se mas também se ganha. Mas o juíz ensinou-me muito mais do que tudo isso: ele disse-me que o que o levou mais longe na vida foi a humildade e que aprende sempre com os outros e que aproveita todas as oportunidades para aprender. E fez-me também perceber que as virtudes estão na moda. E a cara das senhoras doutoras da AT não eram de dificuldade em perceber do que se falava. Isso não. Era perplexidade de como é que a conversa, depois de uma discussão acesa e de posições extremadas, tinha de repente chegado àquele ponto.
Hoje aprendi a lição e vou pensar dela. Foi de um juiz. Um juiz que não é juiz de carreira: é um advogado muito mediático e que, neste caso, estava a atuar como juíz árbitro porque estávamos num tribunal arbitral. Juiz estiloso, novo e bem parecido, dois filhos pequenos e bem casado (presumo pois está sempre a falar da mulher).  Muito conhecido, sendo que aqui chegou pela humildade. Não um homem velho a cheirar a bafio de arquivo à espera de morte lenta (o arquivo não o  juiz). E as Senhoras Dras. da AT lá me deixaram entregar o texto para ser passado à ata (não acta). E lá ficou a minha - e delas - penitência por fazer e vou procurar outra que oportunidades não falta. Por exemplo de travar a língua. Parece-me bem.
Definitivamente: as virtudes estão na moda.E nas cabeças das pessoas com quem nos cruzamos nas mais diversas situações. O motivo: todos queremos ser "um melhor eu".
Aconteceu hoje e foi num tribunal.
Kisses,
Maria

3 comentários:

Anónimo disse...

Muito bem!!! Sem papas na língua!!

kika disse...

Que cómico!! Quem diria que acontecem estes diálogos profundos nos tribunais portugueses!!

Maria disse...

E acontecem outros que davam um livro inteiro.Às vezes hilariantes de chorar a rir. Outras vezes de chorar. Outras vezes de uma paciência infinita...Mas quase sempre ultrapassa a ficção.