01/05/2013

Quando já não há muitos chapéus e histórias da minha vida

                                           

Queridos Amigos,
Sexta-feira que eu ia chamar "negra". Mas não há dias "negros". E quanto mais digo mal destes dias non stop de manhã à noite em que chego à noite e não fiz nadinha do que tinha planeado e era urgente, pior.
No meio da confusão, perto das 3 e meia da tarde saio do escritório a curto-circuitar da cabeça e a precisar de uma pausa. Em vez de pensar  à tarde que de manhã não me devia ter levantado da cama, cada vez me convenço mais da minha humanidade e das minhas limitações. E até ando numa de respeitá-las. E acho que até tenho logrado algumas coisas positivas.
Fiada na pessoa que conheço que mais anda de autocarros na cidade de Lisboa (trabalha no meu escritório), lá me meti no primeiro que vi na paragem do Saldanha e que, pelos vistos, vão quase todos para o Rossio. Não me lembro de andar de autocarro em Lisboa e foi uma odisseia.
O motorista quase que me matava quando lhe perguntei o preço e limitou-se a resmungar "está aí" chutando com a cabeça para um papel que dizia "1,80€".  Respondi que pensava que aquele era o preço da bejeca porque não dizia "bilhete" e eu sou lenta de racicínio desde que nasci. Mas o da vinda foi bem pior. Por razões que não interessa, trazia na carteira uma bolsa cheia de moedas que costumo ter no carro para os parquímetros e na qual só quase tinha moedas pretas que nem os parquímetros aceitam.... Por isso, quando entrei no autocarro no Rossio paguei parte do bilhete com cêntimos. O motorista a resmungar alarvemente e eu penso que o homem ainda deve estar a respingar de algum problema que vinha de trás. No meio daquilo só ouço "está a perder esse tempo todo para gastar as moedas pretas. Pensa que eu sou o padeiro. Quer-se livrar disso por causa de uns trocos" O homem não se calava e disse muito mais  que eu não percebi. Mas conclui que a fúria dele era mesmo comigo. Lembrei-me de tirar as moedas todas de cima da mesa  e  pagar-lhe a totalidade do bilhete em cêntimos enquanto lhe dizia que a cara dele não era de padeiro e que ele me lembrava mesmo, mesmo, mesmo outra pessoa, embora eu seja lenta de raciocínio, tenho boa memória, desde que nasci. Travei-me a tempo porque tive medo que me desse uma carga de porrada porque o homem estava mesmo em estado necessidade de dose de cavalo de calmante ou mesmo drogas duras. São pessoas que não gostam delas próprias, andam mal com  a vida e aquilo funciona tudo mal. Disse-lhe muitos "obrigadinhas" e "foi um gostinho aviá-lo com essas moedinhas que lhe dão um jeitão". Fora este, apercebi-me foi que as pessoas andam no limite. O motorista era só um parvalhão a precisar que o pusessem na ordem, embora sabe-se lá o que  se passa na vida e na cabeça dele. O pior é como as pessoas estão. Cansadas. Arrasadas. Tristes. Naquele autocarro de duas "carruagens" que ia cheio eu devia ser a única pessoa feliz. Aparentemente. A vida também não me corre bem e eu podia aqui começar o rosário de penas que, no fundo, são as penas de todos os portugueses (e  mais algumas que fazem só parte da minha vida e não são poucas e com a dita crise nada têm que ver), mas a minha felicidade não está nas circunstâncias externas, mas dentro de mim, Que impressão me faz isto!    A alegria, para nós, é uma obrigação que nasce do amor, meu Deus! Não vale a pena andar triste que "as tristezas não pagam dívidas".
Bem! Fui ao Rossio a uma loja de perdição: a Casa dos Chapéus! Precisava de um panamá azul escuro para substituir o que trago e que está uma vergonha e só o consegui encontrar lá. Não conhecia esta casa que tem mais de um século de existência!!!!  Está quase num canto do  Rossio, um pouco escondida, mas é um tesouro em termos de chapéus. E as senhoras que estão a atender percebem de chapéus, o que é raro. Hoje já não se pode dizer que "chapéus há muitos" como o Vasco Santana e foi no Corte Inglés que me indicaram esta casa pois lá não tinham panamás azuis escuros que era o que eu precisava.
Bem, nunca tinha aqui estado, na casa dos chapéus do Rossio. Numa palavra: uma perdição. E, sim,  as pessoas que nos atendem... percebem de chapéus. O que é raro, diga-se de passagem...

















Aprendi que os panamás se podem dobrar para transportar em viagens! Não é a forma própria de os guardar, mas podem dobrar-se assim:
















Sabrinas para ir à baixa!  

Esta Lisboa cheia de segredos por desvendar!





Beijo da Maria!

2 comentários:

Violante disse...

O que eu me ri neste seu "desabafo", 1º porque estava a imaginar a cara do motorista do autocarro, depois imaginar o seu ar. Infelizmente as pessoas andam irritadas e qualquer coisa explodem, quando temos tanto para agradecer e tristezas não pagam dividas. A loja já conhecia um mimo onde se encontra tudo, uma reliquia a conservar em Lisboa!Beijinhos

Maria disse...

Sim Violante! Foi hilariante e, sobretudo, desconcertante... Beijinhos.