21/07/2015

Oliver Goldsmith, Gucci e "heritage" e outras histórias.

O tempo, a história, os acontecimentos, os problemas, as crises, a (sobre)vivência dão-nos um tesouro, uma sabedoria que é simplesmente impagável.
Numa época em que se atiram os velhos (e as crianças) para a zona escura ou escondida da sociedade, pensar na "herança" é muito importante. Numa época em que as marcas escolhem miúdas acabadas de sair da adolescência para publicitar cremes  "miraculosos" para as  rugas  é importante parar para pensar com a cabeça sobre este tema. Eu sou optimista e penso sempre que o mais racional e lógico é amar a nossa condição actual e aprender a gostar dela. Por isso, acho sempre que a melhor idade é aquela em que eu estou. E efectivamente estou profundamente convencida disso: aceitar a idade é condição de elegância porque só partindo da realidade é que conseguimos demonstrar com verdade aquilo que somos. Isso, para mim, é condição da elegância.
Hoje a maior faixa "de mercado" são as mulheres de 50 anos e isso dá-lhes um estatuto único e um enorme poder. Isto faz-me pensar no discurso da Patricia Arquette quando ganhou o Óscar e nos imensos anos da minha vida profissional em que fui olhada com uns olhos não-profissionais pelos homens (e algumas mulheres) que fizeram com que eu tivesse de ter dado provas que não foram exigidas aos homens e ter trabalhado mais do que os homens para dar provas, me impor como profissional numa área de "fatos de terylene" cinzentos-claro (que eu odeio) e para que olhassem para mim enquanto profissional e  não como "mulher de trapos". Mas isso são outras histórias que não são para aqui chamadas.
Hoje vou contar duas histórias muito interessantes sobre "heritage". Um tem a ver com a Oliver Goldsmith e outra com a Gucci.
Antes da Oliver Goldsmith os óculos eram todos de metal. A Oliver Goldsmith tinha em frente uma fábrica de botões. Então, um dia, lembraram-se de ir à fábrica de botões e pediram-lhes que fizessem umas placas para fazer óculos. Parece que nesse dia fizeram cem óculos com este material inovador para a época. E parece que os cem óculos se venderam numa hora. A partir da Oliver Goldmisth a história dos óculos nunca mais foi a mesma. Hoje todos os óculos desta marca têm o ano da sua criação na haste, do lado de dentro (não têm a marca por fora, como eu gosto). Talvez os mais icónicos sejam os usados pela Audrey Hepburn ou a Grace Kelly. Uma curiosidade é que estes óculos são feitos exactamente da mesma forma que o eram em 1960 ou 1959 ou 1971! Ter nas mãos uns óculos assim é uma aventura! Estão cheios de história e de histórias para contar!!!!


Outra história tem a ver com as pegas de bambu nas carteiras da Gucci. No tempo da guerra e nos pós guerra, os bens eram racionados e não havia couro. Itália foi muito afectada com a guerra e, em 1947, pela falta de couro, os criadores da Gucci resolveram fazer a pega da carteira em bambu. Hoje em dia a "bamboo bag" é um ícone que inspira milhares de outras marcas (e imitações...), incluindo bijutaria. A forma do bambu passou para outras coisas e é conhecida nos relógios e nas argolas da Gucci. Mas tudo começou numa época de enormes dificuldades.
Eu lembro-me sempre desta história nos tempos de crise e concluo que muitas coisas boas podem resultar de épocas menos boas, seja da história, seja das nossas vidas!

Estas fotografias são do século passado, mas têm alguma coisa de "intemporal"

















 Na década de 40 do século passado, os artesãos a fazer as "Bamboo bag" da Gucci:


Actualmente os Manhattan de 1960 usados pela Audrey H. continuam em cima dos narizes de muitas celebridades, noutras e nas mesmas cores!










Sem comentários: